A mística boavisteira

Carlos Brito foi, já se sabe, dispensado do comando técnico do Boavista. Ao que parece, a decisão foi tomada por João Loureiro após ter descoberto, muito recentemente, que Brito não tinha – pasme-se o leitor – qualquer cadastro criminal. E, já se sabe, querer pertencer aos quadros do Boavista sem possuir cadastro criminal[1] assinalável é sensivelmente equivalente a querer ser o José Castelo Branco não deixando de ser homem. Ou então querer ser benfiquista sem perder a capacidade de pensar. Enfim, meras impossibilidades lógicas.
Mas o presidente boavisteiro, astuto e ágil – como que a recordar os tempos em que, de microfone na mão, eliminava as insónias de muitos milhares de portugueses como vocalista dos falecidos Ban[2] –, não perdeu tempo e contratou alguém à altura. Jesualdo Ferreira foi o escolhido; apesar de não ter grande currículo, o técnico ex-Braga foi, segundo apuraram os olheiros do Boavista, multado por ter estacionado, recentemente, em segunda fila durante cinco minutos, e por, posteriormente, se ter dirigido em termos menos próprios a um agente da autoridade (e também ao polícia) – algo que ficou, desde então, registado no seu cadastro criminal. Pode não ser muito, mas, para João Loureiro, é o suficiente para arriscar a sua contratação. Não é por acaso que o presidente do Boavista advoga fazer questão de apostar em jovens talentos com futuro.
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[1] Alguns historiadores defendem que a escolha do símbolo do Xadrez para representar o Boavista se deve ao facto de todos os seus fundadores se terem reunido, pela primeira vez, numa cadeia – o que não é, de todo, despiciendo. Por outro lado, José Hermano Saraiva advoga que, ao contrário do que é defendido pelos dirigentes e adeptos do Boavista, o clube não foi fundado em 1903 mas sim em 1906, mais concretamente a cinco de Fevereiro desse ano. Para comprovar a sua teoria, o conhecido historiador usa um argumento muito simples. “Segundo pesquisas que realizei, o Boavista foi fundado no mesmo dia em que foi noticiado, no jornal ‘A Bola’, pela primeira vez, que o Rui Costa iria regressar ao Benfica” É, de facto, uma evidência irrebatível.

[2] Para quem não sabe, a primeira designação do grupo foi Banana. Ora, olhando com alguma atenção para a cara de João Loureiro, percebe-se com inusitada facilidade qual foi a inspiração que terá levado à escolha desse nome.