O paradigma

José Veiga, admito-o, faz-me feliz. E não pense o estimado leitor que, finalmente, me tornei um artista – passe a redundância – homossexual. Desengane-se. Tenho demasiado respeito pelo Carlos Castro para almejar sequer chegar-lhe aos calcanhares, apesar de, ainda ontem, ele me ter convidado a chegar-lhe bem mais acima - o que não é completamente despiciendo[1]. Mas não é altura de falar de pessoas que sabem, aqui e ali, falar português. Regressemos a José Veiga.

O director do futebol do Benfica é especial. Bastará vê-lo a falar, olhos nos olhos, para perceber, de imediato, duas coisas: a) a enorme falha que foi não ter trazido uma espécie de limpa pára-brisas para acolher a massa líquida abundante que salta a cada – passe a expressão – palavra que ele diz; b) a falta que faz uma bela lavagem matinal da boca antes de sair de casa.

José Veiga é, de facto, o paradigma do adepto benfiquista: humilde, dedicado e com evidentes problemas ao nível do aniquilar dos odores corporais. O que não deixa de ser estranho, uma vez que, como todos sabemos, José Veiga é portista.

Quando José Veiga fala, o país pára. Quando José Veiga fala, a própria língua portuguesa pára – para só regressar, evidentemente mal tratada, no final do discurso.

José Veiga é, no fundo, um exemplo para toda uma nação. Um mau exemplo, sim – mas um exemplo.

Um dia, quando o meu filho de nove anos se abeirou de mim e me informou de que pretendia deixar de estudar quando terminasse a quarta classe, eu disse-lhe, com serenidade e enquanto lhe passava a mão pelo cabelo: “filho, a única pessoa que eu conheço que só tem a quarta classe e que até conseguiu ser bem-sucedida é o José Veiga.”
Vou agora mesmo buscar o puto ao baile de finalistas do 12º ano.

[1]Resolvi entrar no concurso nacional de figuras públicas que dizem ou escrevem palavras que ninguém entende o que querem dizer. Neste momento o Jorge Sampaio lidera a prova com 15678 palavras que nenhum português conseguiu, até hoje, perceber.