20 abril 2006

Unanimidade hipócrita

Sou um apreciador de Paulo Bento. Contudo, discordo de algumas opções que tem vindo a tomar. E não: não estou a referir-me – como certamente muitos dos leitores estarão a intuir – à opção pelo risco ao meio.

O que me incomoda em Paulo Bento é a fobia do risco. Já o era enquanto jogador, é-o enquanto treinador: Bento não arrisca, Bento prefere um empate a zero que um empate a cinco. Nesse capítulo – não tenho problemas em o assumir – era um fã de Peseiro. O Sporting sofria muitos golos? Sim. O Sporting nada ganhou? Sim. Mas nunca como na última época me deu tanto prazer ver os jogos do meu clube – facto a que não era alheia (admito-o) a presença quase constante da Isabel Figueira nas bancadas. Mas divirjo. Voltemos a Bento.

Há, em torno do técnico do Sporting, uma espécie de unanimidade hipócrita. Hipócrita porque – todos o sabemos – se sustenta na possibilidade forte de o clube garantir o apuramento directo para a Liga dos Campeões. Se tal não acontecer, serão poucos os que duvidam de que Bento deixará de ser o “novo Mourinho “ e passará a ser “o novo Peseiro”. E o pior, para mim enquanto sportinguista, é que este Peseiro não é o líder técnico de um Sporting de Peseiro. É, ao invés, o líder técnico de um Sporting de Trapattoni – mas sem título nacional. O que é – convenhamos – tão excitante como a expressão facial da Lili Caneças sempre que está embrenhada na libertação dos seus resíduos sólidos.

Vejo em Paulo Bento um general, um homem capaz de ordenar num grupo, de o disciplinar, de o unir em torno de um propósito. Não vejo em Bento – pelo menos por enquanto – um metodólogo, um mestre ao nível do treino. Falta-lhe, talvez, experiência – e acima de tudo sapiência teórica. Poderá – e é essa a minha esperança – evoluir. Poderá – se tal acontecer – ser o treinador que recolocará o Sporting no trilho dos títulos. Até lá, é apenas um treinador que transformou uma equipa que pressionava alto como poucas na Europa numa equipa que permite demasiadas veleidades no segundo terço do campo aos seus opositores. O Sporting de Bento joga com as linhas bem juntas, é certo, bascula razoavelmente, mas carece de elasticidade, carece de rupturas, carece de desequilíbrios posicionais. É uma equipa presa de movimentos, sempre segura da sua retaguarda – daí os poucos golos sofridos –, mas incapaz de efectuar a transição defesa-ataque de forma sustentada. Falta – isso nota-se a olho nu – um modelo de jogo na sua verdadeira acepção. Mas isso exige tempo. Espero que seja só isso – tempo – que esteja a faltar. E espero que a tua evolução seja também a evolução do Sporting, Paulo.

2 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Na generalidade concordo com o comentário, mas julgo que neste momento falta acima de tudo um plantel de qualidade - Deivid, Douala, Tello, Loureiro, Romagnoli, Koke e o inevitável Hugo, são demasiados pesos mortos para um clube que quer ser campeão.

Será melhor apostar na prata da casa do que contratar jogadores só para fazer número (Lourenço, Paíto, Paulo Sérgio, Veloso, Semedo...).

Saudações leoninas.

quinta-feira, maio 11, 2006 1:27:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Super color scheme, I like it! Good job. Go on.
»

quinta-feira, maio 18, 2006 12:29:00 da manhã  

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