Candidatura

Fui convidado, recentemente, a participar num debate sobre futebol. A razão por que me convidaram para discorrer sobre futebol e não para uma troca de ideias sobre a política agrícola do país – tema em que estou, como muitos suspeitarão, bastante mais à vontade – é algo que me ultrapassa. Mas avancemos.
Foi um debate interessante. Esgrimiram-se argumentos, geraram-se conclusões construtivas. Mas depois surgiu o moderador e tudo isso terminou. Tudo isto para transmitir a ideia de que, para mim, a existência da figura do moderador faz tanto sentido como juntar, na mesma frase, a palavra “heterossexual” e George Michael; ou a palavra “honestidade” e Luís Filipe Vieira. É, parece-me evidente, um contra-senso.
O moderador dá-me – talvez isso já tenha ficado implícito, mas convém realçar – asco. Reformulo: nojo.
Existir alguém que é pago para fazer moderação é, no entanto, uma porta aberta para uma série de outras profissões. Se temos o moderador, deveremos ter, em breve, o imoderado – alguém pago para não se moderar e para incitar à falta de moderação ao longo do debate; por outro lado, não tardará a surgir a profissão de moderador de moderadores. Bastará observar a inefável Fátima Campos Ferreira para perceber que a figura do moderador de moderadores é uma necessidade premente para a televisão portuguesa. Candidato-me, desde já, a essa espinhosa missão. Adoraria moderar qualquer moderador. Mas – admito – renunciarei ao cargo se um dia a Soraia Chaves atingir o patamar de moderadora. A não ser que queiram, mais tarde, criar o cargo de moderador de moderadores imoderados de moderadores.